O fundador e CEO do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov, foi preso no aeroporto de Le Bourget, nos arredores de Paris, na noite de sábado (24/8). O bilionário russo-francês de 39 anos estava a bordo de seu jato particular quando foi detido pela polícia francesa.
Segundo as agências locais, a prisão de Durov ocorreu devido a um mandado relacionado à investigação sobre a falta de moderadores no Telegram, informou a Reuters. A acusação é de que o executivo supostamente não teria tomado medidas suficientes para cercear a liberdade de expressão na plataforma. Há relatos sobre acusações sobre recusa em entregar dados de usuários.
Durov, russo que atualmente reside em Dubai e possui cidadania dos Emirados Árabes Unidos e da França, fundou o Telegram em 2013. Ele deixou seu país natal em 2014, após se recusar a cumprir as exigências do governo russo de fechar comunidades de oposição em sua antiga empresa, a VKontakte (VK).

“Prefiro ser livre do que receber ordens de qualquer pessoa”, disse Durov em uma entrevista com jornalista Tucker Carlson em abril sobre sua saída da Rússia e a busca por um novo lar para o Telegram, que incluiu períodos em cidades como Berlim, Londres, Cingapura e São Francisco.
O Telegram, que se define como um aplicativo de mensagens seguro e com foco na privacidade, é uma das maiores plataformas do mundo. Ele é o segundo maior mensageiro no Brasil, ficando atrás somente do WhatsApp, e é particularmente popular na Rússia, Ucrânia e outros países da antiga União Soviética.
Tentativas de Censura ao Telegram

A crescente popularidade do Telegram atraiu a atenção de governos de todo o mundo, incluindo a França, que alegou – sem apresentar evidências – preocupações com “segurança” e “violação de dados”.
A Rússia tentou banir o Telegram em 2018 após o criador Pavel Durov recusar a entregar mensagens dos usuários ao Kremlin. No entanto, o Telegram contornou a proibição redirecionando seu tráfego, e os reguladores russos não conseguiram bloquear o acesso. Em 2020, a proibição foi revertida, e hoje o Telegram é uma das principais ferramentas de comunicação na Rússia.
Durov já havia relatado pressão de agências de segurança dos Estados Unidos, afirmando que o FBI e outras autoridades tentaram estabelecer um relacionamento para melhor controlar o Telegram.
“Recebemos muita atenção do FBI e de outras agências de segurança sempre que viemos aos EUA”, disse ele em abril. “A última vez que estive nos EUA, levei um engenheiro que trabalha para o Telegram. Houve uma tentativa de agentes ou agentes de segurança cibernética de contratar meu engenheiro secretamente pelas minhas costas. Eles estavam curiosos para saber quais bibliotecas de código aberto estavam integradas ao aplicativo do Telegram e tentaram persuadi-lo a usar certas ferramentas de código aberto que serviriam como backdoors. Eu pessoalmente experimentei uma pressão semelhante nos EUA. Sempre que eu ia para o país, dois agentes do FBI me recebiam no aeroporto e faziam perguntas. Meu entendimento é que eles queriam estabelecer um relacionamento para controlar melhor o Telegram.”

No Brasil, o Telegram enfrentou várias tentativas de censura e banimento pelo judiciário. Em março de 2018, um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou o bloqueio do aplicativo em todo o território nacional, apesar da Constituição vigente vetar censura. O STF alegou que o Telegram deveria censurar três usuários por supostamente divulgar informações que não seriam verdadeiras.
O caso foi resolvido dentro de horas. Mas o Telegram, frequentemente alvo de perseguições judiciais, foi forçado a contratar representantes legais no Brasil; mas encerrou o contrato posteriormente, ficando sem representação legal no país.
Em outro caso de censura emblemático contra o Telegram, após emitir um editorial detalhando o Projeto de Lei 2630, conhecido como PL da Censura, que buscava implementar censura estatal e ameaçava a liberdade de expressão no país, o STF censurou o informativo e também determinou que a plataforma emitisse a opinião que eles achavam correta sobre um PL.