Chloé Zhao faz história no Oscar

Por Redação Categoria Nerd
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Chloé Zhao fez história ao vencer como melhor diretora no Oscar, se tornando a primeira mulher asiática e primeira mulher de cor a fazer isso nos 93 anos de história da premiação; além disso, ela também foi a segunda mulher, no geral, a fazer tal feito. A cineasta de 38 anos, mais conhecida por seus trabalhos independentes, ganhou o prêmio de direção por “Nomadland”, que também levou o prêmio de melhor filme.

“Tenho pensado muito ultimamente em como continuo quando as coisas ficam difíceis”, disse Zhao em seu discurso de aceitação. “E acho que remonta a algo que aprendi quando era criança. Quando eu estava crescendo na China, meu pai e eu costumávamos jogar este jogo. Memorizávamos poemas e textos clássicos e tentávamos terminar as frases uns dos outros”. A diretora então citou um de seus favoritos: “no nascimento, todas as pessoas são inerentemente boas” – algo que permaneceu com ela por toda a vida. 

“Embora às vezes possa parecer que o oposto é verdadeiro, sempre acabei encontrando bondade nas pessoas que conheci”, disse Zhao, antes de acrescentar que “isso é para qualquer um que teve a fé e a coragem de se apegar à bondade em si mesmo e de se apegar à bondade uns dos outros, não importa o quão difícil seja fazer isso”.

Chloé Zhao vendo Frances McDormand levar o Oscar de melhor atriz. Foto: Vanity Fair

Com uma viagem pelo oeste estadunidense, “Nomadland” foi um conto sombrio de resiliência através da perspectiva de uma personagem aprendendo a viver à margem da sociedade. “Por favor, assista ao nosso filme na maior tela possível e um dia em breve leve todos que você conhece, ombro a ombro, naquele espaço escuro e assista a todos os filmes que estão representados aqui esta noite”, disse Frances McDormand, que estrela o longa e também atua como produtora ao lado de Zhao, durante seu discurso ao ganhar dois Oscars de filme e atriz.

Este foi o primeiro ano em que dois diretores de ascendência asiática (Zhao e Lee Isaac Chung, de “Minari”) foram indicados para melhor direção e também o único ano em que duas mulheres (Zhao e Emerald Fennell, de “Promising Young Woman”) foram nomeadas ao mesmo tempo. Incluindo Zhao e Fennell, apenas sete mulheres já concorreram a este prêmio.

Zhao, que atualmente tem 38 anos, cresceu em Pequim na China, antes de frequentar um internato em Londres e, depois disso, concluir o ensino médio em Los Angeles. Ela inicialmente teria uma carreira muito diferente do que entretenimento. Ela ingressou na faculdade Mount Holyoke College em Massachusetts onde estudou ciências políticas. Mas, depois de se formar, ela passou vários anos sendo barista e fazendo biscates até que decidiu se matricular na escola de cinema da Universidade de Nova York, durante o que ela chama de uma “crise de quarto de vida”.

Ela se tornaria uma cineasta, mas teve um caminho longo até a encontrar sua abordagem e características. Ao longo dos anos, Zhao desenvolveu seu método íntimo de contar histórias que consiste em ela se incorporar e conseguir a confiança das pessoas que se tornam temas de seus filmes.

Ela planejou que seu primeiro filme se passasse na Reserva Indígena de Pine Ridge em Dakota do Sul nos EUA e passou um ano conhecendo as pessoas da região até sentir que estava ouvindo suas histórias autênticas – além das narrativas de pobreza, alcoolismo e trauma histórico que eles retransmitiria para jornalistas e artistas que mergulharam na área em busca de material, de acordo com Zhao. Ela passou três anos por lá, incluindo uma temporada trabalhando como professora substituta em uma aula de redação criativa no ensino médio, e nesse período escreveu 30 rascunhos do filme. Mas então o financiamento caiu repentinamente. Ela e seu parceiro romântico de filmagem, Joshua James Richards, souberam da notícia durante um teste de câmera em Nova Jersey. Quando eles dirigiram de volta para seu apartamento em Nova York logo depois, eles descobriram que seu apartamento havia sido invadido e todas as imagens coletadas anteriormente tinham sumido.

Olhando para trás, a diretora acredita que seja uma benção ter que começar de novo, pois provou ser benéfico no longo prazo: “Eu me superei”, disse Zhao em uma entrevista ampla ao Vulture. “Achei que aquele filme fosse a minha identidade. Quando foi tirado, eu realmente me descobri porque não teria feito da maneira certa”.

Zhao analise que trilhou um caminho mais lento para o sucesso, mas que definiu quem ela é. “Nesta indústria, se você não for honesto sobre quem você é, você vai atrair pessoas com quem você não quer trabalhar de qualquer maneira”, disse ela ao The Atlantic“Por ser autenticamente quem você é, você pode demorar um pouco para se tornar bem-sucedido, mas vai aos poucos reunindo pessoas que são sua tribo, seu tipo de gente”.

“Nomadland”, estrelado por Frances McDormand em seu primeiro papel desde que ganhou o Oscar por “Três Anúncios Para Um Crime”, tem sido amplamente considerado como um dos melhores filmes do último ano, conseguindo um excelente desempenho nesta temporada de premiação – levando o Globo de Ouro de melhor direção, melhor roteiro e melhor filme de drama, além de vários BAFTAs, DGA Awards e Indepent Spirit Awards, até abocanhar os principais prêmios do Oscar 2021.

“Nomadland”, estrelado por Frances McDormand em seu primeiro papel desde que ganhou o Oscar por “Três Anúncios Para Um Crime”, tem sido amplamente considerado como um dos melhores filmes do último ano, conseguindo um excelente desempenho nesta temporada de premiação, até abocanhar os principais prêmios do Oscar 2021.

O longa é um filme devastador sobre as dificuldades de uma mulher vivendo em um sistema falido e que poderia muito bem ser o destaque do ano de 2020, um prêmio incerto para um ano como aquele. O longa é uma adaptação ficcional de um livro de não-ficção de Jessica Bruder, que usa a personagem Fern como uma lente para ver a subcultura das pessoas que passam suas vidas viajando em trailers e carros, trabalhando e sobrevivendo enquanto se movem pelos EUA. Como Fern, muitos deles estão perto da idade de aposentadoria, mas sem a opção ou inclinação para se aposentar e, em vez de lutar para sustentar o que tinham antes, reduziram suas necessidades. Eles são refugiados da última recessão, do aumento do custo para sobreviver, para se comprar a vida e, claro, de uma rede de segurança de vida desgastada – embora a diretora e roteirista Chloé Zhao tenha se recusado a reduzi-los a subprodutos do sistema capitalismo que estamos inseridos.

“O mundo está tentando nos dividir”, afirmou Zhao anteriormente ao IndieWire. “Nos últimos meses, todos nós passamos por uma versão do que Fern sentiu – esse sentimento de grande perda para uma vida que você costumava ter”, ela continuou se referindo à pandemia em curso. “É apenas esse vazio que você sente, a necessidade de voltar ao normal, que leva à aceitação e a como você pode crescer para se sentir bem com o seu lugar no mundo. É disso que muitas pessoas precisam agora”.

Por enquanto, “Nomadland” ainda não possui nenhuma data de estreia no Brasil definida, com a 20th Century Studios (da Disney) apenas alegando que o longa vai estrear “em breve” nos cinemas brasileiros; O longa já estreou nos cinemas fora do Brasil e está no Hulu, que não está disponível no Brasil.

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