“Blade Runner: Enhanced Edition”, uma versão remasterizada do clássico jogo de ficção dos anos 90, está em desenvolvimento faz já algum tempo e inicialmente estava marcado para ser lançado ainda neste ano, mas parece que o projeto encontrou muitos obstáculos e será adiado até pelo menos 2021.
Stephen Kick, o CEO da Nightdive, contou em entrevista ao Eurogamer que remasterizar “Blade Runner” se tornou mais complicado do que o estúdio havia previsto. Existem diversos fatores que tornam a remasterização do jogo tão difícil, mas dois são centrais: Nightdive não tem acesso ao código-fonte do jogo, e o original foi feito de tal forma que torna a remasterização difícil e demorada.
O jogo original foi desenvolvido pela Westwood, mas quando o estúdio foi comprado pela EA, o código-fonte de “Blade Runner” foi perdido; Louis Castle, co-fundador da Westwood, disse em 2015 que um remake seria extremamente caro, algo que o estúdio não tinha como arcar e devido a questões legais e de propriedade intelectual, tornou-se impossível trazer o jogo nos últimos anos.
“Houve alguns obstáculos que tivemos que superar em termos da tecnologia antiga que o jogo usa”, disse Kick. “E nossa busca pelo código-fonte original e ativos não deram certo”.
Eurogamers observa que um cofre com conteúdo antigo de Westwood foi encontrado pela EA durante o desenvolvimento do remasterizado Command & Conquer, mas caso tenha algum materia que possa ajudar a Nightdive restaurar o jogo, a empresa não está muito disposta a fazer isso.
“Tivemos algumas discussões com a EA sobre o que mais eles encontraram no cofre em relação ao Blade Runner, e não fomos capazes de obter uma resposta clara. E mesmo se houvesse algo, é muito improvável que eles nos liberassem por motivos legais, principalmente, o que é um pouco decepcionante, porque esperávamos pelo menos obter as gravações de áudio originais”, ele explica. “Basicamente, estamos trabalhando fora do que estava no jogo original neste ponto e não ter acesso a nenhum material original. Fui levado a acreditar que existem algumas coisas, mas ninguém jamais saberá”.
Isso significa que Nightdive deve fazer engenharia reversa do código – uma tarefa árdua e demorada que envolve a criação de ferramentas para extrair os ativos de arte originais. “Só está demorando um pouco mais do que esperávamos originalmente”, disse Kick.
Para complicar mais ainda, existe mais um fator: o jogo original não apresentava animações manipuladas, como a maioria dos jogos fazem. Em vez disso, cada animação para cada personagem era gerada de um modelo diferente, o que significa que existem milhares de modelos dentro do game. Mas por causa do tamanho, cada modelo é apenas uma parte de um modelo, o que para a remasterização deixa grandes lacunas que tem de ser preenchidas para remasterizar e atualizar o jogo adequadamente.
“Para fazer com que tudo se encaixasse em todos os personagens, eles realmente tiveram que remover fatias de cada modelo”, explicou Kick. “Basicamente, metade das informações do modelo teve que ser removida apenas para que tudo se encaixasse no jogo”.
Então Nightdive deve preencher todos os elementos que faltam, por assim dizer, enquanto anima os personagens corretamente usando um único modelo para cada quadro de animação. A alternativa para isso, seria refazer o “Blade Runner” por completo, mas isso não está dentro do escopo do projeto, que é remasterizar.
“Estamos em um meio-termo muito difícil, onde não podemos realmente fazer o que normalmente é feito em uma remasterização”, disse Kick. “Tivemos que inventar novos pipelines para extrair os dados e modificá-los de uma forma que os apresentasse em uma resolução um pouco mais alta ou com maior fidelidade. Então, sim, foi um verdadeiro desafio”.
O estúdio também tentou encontrar uma outra alternativa, ao negociar com o ScummVM, que era o trabalho de engenharia reversa feito por fã que permite que você execute alguns dos jogos de aventura clássicos. Mas as negociações para licenciar o trabalho da ScummVM em “Blade Runner” acabaram fracassando.
“Nós conversamos sobre isso”, confirmou Kick. “Mas não conseguimos chegar a um acordo que fizesse sentido para o projeto. Foi decepcionante. Mas, novamente, como estamos usando nossa própria tecnologia e temos uma equipe de programadores extraordinariamente talentosos, foi um desafio que estávamos dispostos a enfrentar. Então, sim, estamos fazendo alguns progressos significativos. E acho que os resultados falam por si”.
Desenvolvido pela Westwood, o jogo original segue a história do detetive Roy McCoy, um caçador de androides. A história não linear do jogo se passa no mesmo universo do filme de 1982 de mesmo nome, e McCoy interage com os personagens e ambientes vistos no filme. Os atores Sean Young, James Hong, Joe Turkel, Brion James e William Sanderson reprisaram seus papéis para o jogo. Depois de oito anos, com problemas de questões legais e de propriedade intelectual e um esforço para fazer o jogo rodar em hardwares mais modernos, a versão original de “Blade Runner” foi finalmente disponibilizada no GOG no ano passado, estando compatível para Linux, Mac e Windows.
Quanto ao “Blade Runner: Enhanced Edition”, quando ele for realmente lançado, chegará compatível para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch.
