John Boyega lamenta que a Disney não tenha desenvolvido os personagens de atores não-brancos de “Star Wars”

Por Redação Categoria Nerd
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John Boyega, astro da mais recente trilogia “Star Wars”, compartilhou sua difícil experiência de trabalhar para a Disney na franquia, tendo que lidar com problemas por causa de sua raça. Ele descreveu toda sua frustração especialmente pelo estúdio não ter desenvolvido bem seu personagem, assim como de outros atores que não são brancos (incluindo Kelly Marie Tran, Naomi Ackie e até Oscar Isaac, a quem ele se refere como “um irmão da Guatemala”).

Falando em uma ampla e detalhada reportagem da GQ, Boyega descreveu seus sentimentos sobre a franquia de “difíceis de manobrar”, dizendo que a forma como seu personagem foi tratado “não é bom”, explicando ainda que seu personagem foi “anunciado para ser muito mais importante do que realmente era” e, em seguida, foi “colocado de lado” – acrescentando ainda que ele foi o único membro do elenco principal “que teve sua própria experiência naquela franquia baseada em sua raça”.

Kelly Marie Tran, Oscar Isaac e John Boyega durante evento D23, da Disney. Foto/Zimbio

“É tão difícil de manobrar”, explica ele à GQ. “Você se envolve em projetos e não necessariamente vai gostar de tudo. [Mas] o que eu diria para a Disney é não trazer um personagem negro à tona, comercializá-lo para ser muito mais importante na franquia do que são e, em seguida, colocá-lo de lado. Não é bom. Vou dizer isso diretamente”.

Ele então observa que a Disney só desenvolveu as nuances dos personagens de atores brancos, como Daisy Ridley e Adam Driver, enquanto isso não aconteceu com os personagens de atores não brancos como Kelly Marie Tran, Naomi Ackie e até Oscar Isaac. “Tipo, vocês [da Disney] sabiam o que fazer com Daisy Ridley, sabiam o que fazer com Adam Driver. Você sabia o que fazer com essas outras pessoas, mas quando se tratava de Kelly Marie Tran, quando se tratava de John Boyega, vocês sabem de porra nenhuma”.

“Então o que você quer que eu diga? O que eles querem que você diga é: ‘Gostei de fazer parte disso. Foi uma ótima experiência…’ Nah, nah, nah. Aceito esse negócio quando for uma ótima experiência”, ele pontua. “Eles deram todas as nuances ao Adam Driver, todas as nuances a Daisy Ridley. Sejamos honestos. Daisy sabe disso. Adam sabe disso. Todo mundo sabe. Não estou expondo nada aqui”.

Boyega então reflete que sua difícil experiência com o filme da Disney o mudou, tornando-o “muito mais militante”. “Eu sou o único membro do elenco que teve sua própria experiência única naquela franquia baseada em sua raça. Vamos deixar assim. Fica com raiva de um processo como esse. Isso o torna muito mais militante; isso muda você. Porque você percebe: ‘Recebi essa oportunidade, mas estou em uma indústria que nem estava pronta para mim'”.

“Ninguém mais no elenco tinha pessoas dizendo que iriam boicotar o filme porque [eles estavam no filme]. Ninguém mais teve o alvoroço e ameaças de morte enviadas para seus DMs do Instagram e mídias sociais, dizendo: ‘Enegreça isso e enegreça aquilo e você não deveria ser um Stormtrooper’. Ninguém mais teve essa experiência”, ele acrescenta. “Mesmo assim, as pessoas ficam surpresas por eu ser assim. Essa é minha frustração”.

A atriz Kelly Marie Tran no Oscar. Foto/Vox Media

Quanto a Kelly Marie Tran, a forma como ela foi tratada na franquia é ainda mais estranha. A atriz vietnamita-americana interpretou Rose Tico em “Star Wars: Os Últimos Jedi”, sendo uma das principais personagens do filme, mas quando a sequência, “A Ascensão Skywalker”, chegou, seu papel foi completamente reprimido pelo filme da Disney, dando à ela uma participação de apenas 76 segundos de tela – essa ação bizarra foi apontada por críticos como o filme anulando o anterior.

Conforme informamos em uma reportagem recente, o filme da Disney pareceu fazer um aceno bizarro para aqueles trolls racistas que fizeram Tran ter que chegar ao ponto de excluir seu perfil do Instagram em junho de 2018 após constantes críticas racistas nos comentários por sua personagem ter sido uma das protagonistas.

Olhando para isso mais tarde, Tran contou em um artigo no The New York Times, que acabou desenvolvendo um certo tipo de trauma, com ela começando a se culpar: “Por mais que odeie admitir, comecei a me culpar. Pensei: ‘Ah, talvez se eu fosse mais magra’ ou ‘Talvez se eu deixasse meu cabelo crescer’ e, o pior de tudo, ‘Talvez se eu não fosse Asiática’. Durante meses, desci uma espiral de ódio por mim mesmo, até os recessos mais sombrios da minha mente, lugares onde me destruí, onde coloquei suas palavras acima do meu próprio valor. E foi então que percebi que era tudo mentiras”.

Na reportagem citada acima, relatamos detalhadamente que a Disney está a usando a atriz vietnamita-americana para substituir uma atriz branca canadense, que a empresa do Mickey originalmente tinha escalado para dublar uma personagem principal em um filme de animação sobre a cultura do sudeste asiático – no mínimo isso parece problemático.

Nós tentamos entrar em contato com a Disney do Brasil para publicar algum esclarecimento sobre o assunto, mas até o momento da publicação dessa reportagem, a Disney não retornou nossas ligações.

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