Disney creditou agência ligada aos campos de concentração da China no live-action de “Mulan”

Por Redação Categoria Nerd
8 Min Read

Parece que a Disney trouxe desonra para todos nós; O THR relata que o estúdio teve coragem de agradecer publicamente uma agência estatal ligada aos campos de concentração da China – onde mais de um milhão de seres humanos estão sendo mantidos presos contra sua vontade, com relatos de violação dos direitos humanos nestes locais.

Esse agradecimento “especial” foi incluído nos créditos do filme de US$ 200 milhões do estúdio, “Mulan”, um remake em live-action da clássica animação sobre a garota que enfrenta todas as dificuldades para trazer honra para sua família e sua nação, a China. Esse novo escândalo coloca o filme sob fogo adicional, isso depois de uma enorme campanha pedindo boicote ao filme por conta do apoio da protagonista à polícia violenta de Hong Kong – território dominado pela China.

Jornalista Isaac Stone Fish compartilha uma captura de tela do chamado “Agradecimento Especial” para a China – incluindo a agencia ligada aos campos de concentração chinês.

“Para fazer Mulan, a Disney trabalhou com quatro departamentos de propaganda na região chinesa de Xinjiang, local de um genocídio contra os muçulmanos”, explica o jornalista do Whashington Post, Isaac Stone Fish. “O que há de errado em agradecer a Xinjiang? Bem, mais de um milhão de muçulmanos em Xinjiang, principalmente da minoria uigur, foram presos em campos de concentração. A Disney trabalhou com regiões onde o genocídio está ocorrendo e agradeceu aos departamentos que estão ajudando a implementar isso”.

“É especialmente irritante que eles tenham agradecido ao departamento de Segurança Pública de Turpan, que divulgou um documento assustador dizendo aos oficiais como responder quando parentes perguntassem sobre seus familiares em campos de concentração. ‘Eles estão em uma escola de treinamento’, os funcionários foram ensinados a responder de forma assustadora. ‘Eles têm condições muito boas para estudar e morar lá, e vocês não precisam se preocupar com nada'”, ele complementa.

Fish observa que “a Disney ajuda a normalizar um crime contra a humanidade”, ao decidir fazer o filme nas regiões com fortes relatos públicos de violação de direitos humanos, enquanto “existem muitas outras regiões na China e países ao redor do mundo que oferecem o cenário montanhoso absolutamente belo presente no filme”.

Ele então argumenta que “Mulan” se tornou no filme mais problemático da Disney desde que a empresa em 1946 lançou “A Canção do Sul”, um filme que “glorificava a vida em uma plantação [do tipo escravista] em termos dolorosamente racistas”, observando ainda que o live-action é problemático por conta “dos vergonhosos compromissos que a Disney fez para filmar”.

Em uma detalhada reportagem, explicamos exatamente o motivo dos enormes pedidos de boicote ao filme da Disney, onde relatamos que a Disney e outros estúdios de Hollywood têm ignorado violações horríveis de direitos humanos, incluindo os campos de concentração chineses, para poder obter acesso ao enorme mercado de bilheterias da China.

Para filmar o filme de US$ 200 milhões, a Disney esteve em aproximadamente 20 locais na China, incluindo o deserto Mingsha Shan, que se estende até Xinjiang, e o Vale Tuyuk, a leste de Turpan. Depois que “Mulan” termina, nos créditos aparece uma sessão de “agradecimento especial” especificando oito entidades governamentais da China em Xinjiang, incluindo o escritório de segurança pública na cidade de Turpan, bem como à agência de propaganda da região do Partido Comunista Chinês – incorretamente creditada como um departamento de publicidade, quando o correto é propaganda.

Qual era o escândalo anterior?

Uma garota segura um desenho que retrata uma manifestante ferida durante um protesto no Aeroporto Internacional de Hong Kong em 12 de agosto de 2019. Foto/Vox Media

Uma ampla campanha pedindo o boicote “Mulan” surgiu em agosto de 2019, quando a estrela do filme, Liu Yifei, fez um escandaloso comentário apoiando a polícia de Hong Kong em meio à violência exagerada por parte da polícia em cima de manifestantes pró-democracia – o que foi amplamente condenado por instituições de direitos humanos e também pela ONU; Na época a Disney preferiu se manter “neutra”, conforme informou o THR.

Mas Yifei não foi a única do filme da Disney a apoiar o domínio chinês em Hong Kong, com a co-estrela de “Mulan”, Donnie Yen, chegando ao ponto de acessar seu perfil no Facebook para comemorar publicamente o 23º aniversário da dominação da China em Hong Kong.

Com o lançamento do filme na última sexta-feira (4), a campanha pelo boicote de “Mulan” ressurgiu, com a coordenação de manifestantes de Hong Kong, Tailândia e Taiwan, juntamente com defensores de direitos humanos: “Este filme é lançado hoje. Mas porque a Disney faz reverências a Pequim, e porque Liu Yifei abertamente e orgulhosamente aprova a brutalidade policial em Hong Kong, peço a todos os que acreditam em direitos humanos para Boicotarem Mulan”, escreveu Joshua Wong, um proeminente ativista pela democracia de Hong Kong.

Conforme explicamos, esse boicote é feito com o objetivo de não compactuar com as violações de direitos humanos ignoradas pela Walt Disney Company, bem como tentar influenciar e mudar o modo que a empresa opera: Como empresa multinacional e multibilionária, a responsabilidade e planejamento da Disney não é com os direitos humanos, mas com o lucro. É por isso que ativistas políticos, como os de Hong Kong, usam estratégias como o boicote para influenciar a tomada de decisões corporativas: porque se não for suficiente mostrar que isso é moralmente errado, prejudicar os lucros fará com que as empresas ajam para fazer o que é moralmente certo com o objetivo de não prejudicar seus lucros.

O filme dirigido por Niki Caro foi transferido para o Disney+ depois que seu lançamento nos cinemas foi adiado indefinidamente devido à pandemia em andamento. Mas para assistir ao filme, os assinantes do serviço de streaming da Disney terão de desembolsar uma alta-quantia extra de US$ 30 para poder realmente assistir ao filme – ou esperar três meses para poder fazer isso.

A Walt Disney não respondeu imediatamente à um pedido de comentário para esta reportagem.

Compartilhe