Oscar 2021: Chineses comemoram vitória histórica de Chloé Zhao – não oficialmente

Por Redação Categoria Nerd
11 Min Read

Após a histórica vitória de Chloé Zhao no Oscar, as pessoas do seu país natal tiveram que ser criativas para celebrar o feito da cineasta, depois que seu nome foi censurado pelo governo chinês. A mente por trás de “Nomadland”, o principal vencedor do Oscar 2021, fez história ao se tornar a primeira mulher asiática e de cor a ganhar o prêmio de melhor direção no Oscar, mas ainda não recebeu elogios oficiais de seu país natal. 

Inicialmente as vitórias de Zhao na temporada de premiações foram celebradas pela China, com a mídia estatal do país chegando a chamá-la de “o orgulho da China”. Porém, conforme relata a NBC News, o governo chinês começou a censurar menções à Zhao e seu filme depois que entrevistas antigas da cineasta parecendo criticando seu país de origem vieram à tona após sua vitória no Globo de Ouro em 1º de março deste ano.

No Weibo, o microblogging da China semelhante ao Twitter, as pessoas contornaram os censores usando traduções e iterações alternativas do título do filme e do nome de Zhao. “Nomadland”, que se traduz ao equivalente que “terra não confiável” em chinês, foi propositalmente alterada e, em vez disso, referida como “céu confiável” – conseguindo, com isso, ultrapassar os obstáculos de censura do governo chinês.

Chloé Zhao recebendo seu Oscar de melhor direção por seu trabalho em “Nomadland”. Foto: Variety

Zhao recebeu vários nomes alternativos. Alguns dos mais usados incluía referências como “filha das nuvens” e outros simplesmente a chamaram de “aquela garota”. O próprio discurso de aceitação de Zhao, no qual ela fez referência a um texto chinês clássico sobre as pessoas serem inerentemente boas no nascimento, também repercutiu bastante na China.

Zhao “é ótima, andando no tapete vermelho de tênis e recitando uma linha do Clássico dos Três Personagens”, escreveu uma pessoa no Weibo, contornando a censura para se referir à cineasta vencedora do Oscar. “Essa é a sabedoria de um literari. Algumas palavras podem ser apagadas, mas essas não”.

A cineasta de 38 anos, nomeada quatro vezes ao Oscar, fez história ao se tornar a primeira mulher asiática e de cor a ganhar o prêmio de melhor direção no Oscar. Ela também é a segunda mulher a ganhar o título de melhor diretor, mas ainda não recebeu elogios oficiais de seu país natal.

“Tenho pensado muito ultimamente em como continuo quando as coisas ficam difíceis”, disse Zhao em seu discurso de aceitação. “E acho que remonta a algo que aprendi quando era criança. Quando eu estava crescendo na China, meu pai e eu costumávamos jogar este jogo. Memorizávamos poemas e textos clássicos e tentávamos terminar as frases uns dos outros”. A diretora então citou um de seus favoritos: “no nascimento, todas as pessoas são inerentemente boas” – algo que permaneceu com ela por toda a vida. 

“Embora às vezes possa parecer que o oposto é verdadeiro, sempre acabei encontrando bondade nas pessoas que conheci”, disse Zhao, antes de acrescentar que “isso é para qualquer um que teve a fé e a coragem de se apegar à bondade em si mesmo e de se apegar à bondade uns dos outros, não importa o quão difícil seja fazer isso”.

Os comentários sobre Zhao e seu filme foram silenciadas na China depois que entrevistas antigas da cineasta parecendo criticar o país ressurgiram na internet após sua vitória no Globo de Ouro em 1º de março; em uma entrevista de 2013 para a revista Filmmaker, a cineasta descreveu sua experiência na China como “um lugar onde há mentiras por toda parte”.

Em outras entrevistas, também foram desenterrada, incluindo uma na qual Zhao, que passou um tempo estudando nos Estados Unidos, foi citada como tendo dito a um site de notícias australiano, news.com.au, que “os EUA agora é meu país, em última análise”. Quanto à esta citação, o veículo de notícias passou a esclarecer que eles a citaram incorretamente e que ela teria dito que “os EUA não é meu país”.

Seja como for, isso não importou para o governo chinês que, em poucos dias, censurou todos os comentários sobre a diretora, inicialmente chamada de “o orgulho da china”, e o seu filme vencedor do Oscar por causa das suas opiniões e comentários contundentes. Até mesmo o material promocional de “Nomadland” na China desapareceu online e não há sinais de que o filme seja lançado nos cinemas chineses no futuro; mesmo que o filme pareça ser mais como uma crítica ao sistema capitalista norte-americano.

O próprio Oscar não foi transmitido na China e, pela primeira vez em 50 anos, também não foi transmitido em Hong Kong. Neste ponto, observe que o documentário, “Do Not Split”, que fala sobre os protestos pró-democracia de 2019 em Hong Kong, também foi indicado ao prêmio de melhor documentário. No entanto, nem as autoridades chinesas nem a principal emissora de Hong Kong disseram que a proibição foi devido à inclusão de “Nomadland” ou do documentário, este último apontando para “razões comerciais”.

Através de serviços de rede privada virtual (VPN), muitos chineses foram capazes de assistir ao Oscar; apesar disso, a Reuters reportou que até mesmo uma transmissão ao vivo de pessoas em Zangai através de VPN foram bloqueadas por horas pelo governo. 

Hu Xijin, editor-chefe do Global Times, um jornal estatal chinês, parabenizou Zhao por sua vitória no Twitter, mas também disse que espera que Zhao “se tornasse cada vez mais madura” para lidar com os problemas que os tensos laços China-EUA podem trazer para ela. Não houve declarações de autoridades estatais chinesas sobre a vitória de Zhao ou a resposta online. No entanto, offline, a AP informou que alguns comemoraram a vitória de Zhao. “Uau, isso é incrível – ganhar o prêmio mais importante do mundo como um chinês”, disse Zhou Lu, um editor em Pequim. Ela não tinha ouvido falar de Zhao antes de sua vitória, mas planeja assistir ao filme.

A diretora Chloé Zhao ao lado de Frances McDormand nos bastidores de “Nomadland”, da Searchlight Pictures. Foto: EW/Meredith Corp.

Zhao, que atualmente tem 38 anos, cresceu em Pequim na China, antes de frequentar um internato em Londres e, depois disso, concluir o ensino médio em Los Angeles. Ela inicialmente teria uma carreira muito diferente do que entretenimento. Ela ingressou na faculdade Mount Holyoke College em Massachusetts onde estudou ciências políticas. Mas, depois de se formar, ela passou vários anos sendo barista e fazendo biscates até que decidiu se matricular na escola de cinema da Universidade de Nova York, durante o que ela chama de uma “crise de quarto de vida”.

Ela se tornaria uma cineasta, mas teve um caminho longo até a encontrar sua abordagem e características. Ao longo dos anos, Zhao desenvolveu seu método íntimo de contar histórias que consiste em ela se incorporar e conseguir a confiança das pessoas que se tornam temas de seus filmes.

“Nomadland”, estrelado por Frances McDormand em seu primeiro papel desde que ganhou o Oscar por “Três Anúncios Para Um Crime”, tem sido amplamente considerado como um dos melhores filmes do último ano, conseguindo um excelente desempenho nesta temporada de premiação – levando o Globo de Ouro de melhor direção, melhor roteiro e melhor filme de drama, além de vários BAFTAs, DGA Awards e Indepent Spirit Awards, até abocanhar os principais prêmios do Oscar 2021.

 longa é um filme devastador sobre as dificuldades de uma mulher vivendo em um sistema falido e que poderia muito bem ser o destaque do ano de 2020, um prêmio incerto para um ano como aquele. O longa é uma adaptação ficcional de um livro de não-ficção de Jessica Bruder, que usa a personagem Fern como uma lente para ver a subcultura das pessoas que passam suas vidas viajando em trailers e carros, trabalhando e sobrevivendo enquanto se movem pelos EUA. Como Fern, muitos deles estão perto da idade de aposentadoria, mas sem a opção ou inclinação para se aposentar e, em vez de lutar para sustentar o que tinham antes, reduziram suas necessidades. Eles são refugiados da última recessão, do aumento do custo para sobreviver, para se comprar a vida e, claro, de uma rede de segurança de vida desgastada – embora a diretora e roteirista Chloé Zhao tenha se recusado a reduzi-los a subprodutos do sistema capitalismo que estamos inseridos.

“O mundo está tentando nos dividir”, afirmou Zhao anteriormente ao IndieWire. “Nos últimos meses, todos nós passamos por uma versão do que Fern sentiu – esse sentimento de grande perda para uma vida que você costumava ter”, ela continuou se referindo à pandemia em curso. “É apenas esse vazio que você sente, a necessidade de voltar ao normal, que leva à aceitação e a como você pode crescer para se sentir bem com o seu lugar no mundo. É disso que muitas pessoas precisam agora”.

Por enquanto, “Nomadland” ainda não possui nenhuma data de estreia no Brasil definida, com a 20th Century Studios (da Disney) apenas alegando que o longa vai estrear “em breve” nos cinemas brasileiros; O longa já estreou nos cinemas fora do Brasil e está no Hulu, que não está disponível no Brasil.

Compartilhe
Sair da versão mobile