Chloé Zhao faz história no Globo de Ouro como segunda mulher a vencer por melhor direção

Por Redação Categoria Nerd
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Chloé Zhao fez história no Globo de Ouro ao vencer o prêmio de melhor direção, se tornando a segunda mulher a fazer isso nos 78 anos de história da premiação; além disso, ela também se tornou na primeira mulher com ascendência asiática a conseguir esse feito. A última vez que uma mulher venceu o Globo de Ouro de melhor direção foi há quase quatro décadas atrás quando Barbara Streisand venceu por “Yentl” em 1984.

Zhao, uma cineasta de 38 anos conhecida por seus trabalhos independentes, venceu o Globo de Ouro por “Nomadland”, seu filme mais recente, que também levou o prêmio de melhor filme de drama. “Este prêmio pertence a toda a equipe ‘Nomadland’, todo o elenco e equipe”, disse ela no seu discurso de aceitação. “Todos vocês sabem quem são”.

“Quero agradecer especialmente aos nômades que compartilharam suas histórias conosco”, Zhao continuou, antes de compartilhar uma citação de um deles sobre compaixão: “Compaixão é a quebra de todas as barreiras entre nós. Uma ligação de coração para coração. A dor é a minha dor. É mesclada e compartilhada entre nós”. Zhao então acrescentou que “é por isso que me apaixonei por fazer filmes e contar histórias”, ela disse. “Porque nos dá a chance de rir e chorar juntos. E nos dá a oportunidade de aprender uns com os outros e ter mais compaixão uns pelos outros”. Assista abaixo:

Zhao, que atualmente tem 38 anos, cresceu em Pequim na China, antes de frequentar um internato em Londres e, depois disso, concluir o ensino médio em Los Angeles. Ela inicialmente teria uma carreira muito diferente do que entretenimento. Ela ingressou na faculdade Mount Holyoke College em Massachusetts onde estudou ciências políticas. Mas, depois de se formar, ela passou vários anos sendo barista e fazendo biscates até que decidiu se matricular na escola de cinema da Universidade de Nova York, durante o que ela chama de uma “crise de quarto de vida”.

Ela se tornaria uma cineasta, mas teve um caminho longo até a encontrar sua abordagem e características. Ao longo dos anos, Zhao desenvolveu seu método íntimo de contar histórias que consiste em ela se incorporar e conseguir a confiança das pessoas que se tornam temas de seus filmes.

Ela planejou que seu primeiro filme se passasse na Reserva Indígena de Pine Ridge em Dakota do Sul nos EUA e passou um ano conhecendo as pessoas da região até sentir que estava ouvindo suas histórias autênticas – além das narrativas de pobreza, alcoolismo e trauma histórico que eles retransmitiria para jornalistas e artistas que mergulharam na área em busca de material, de acordo com Zhao. Ela passou três anos por lá, incluindo uma temporada trabalhando como professora substituta em uma aula de redação criativa no ensino médio, e nesse período escreveu 30 rascunhos do filme. Mas então o financiamento caiu repentinamente. Ela e seu parceiro romântico de filmagem, Joshua James Richards, souberam da notícia durante um teste de câmera em Nova Jersey. Quando eles dirigiram de volta para seu apartamento em Nova York logo depois, eles descobriram que seu apartamento havia sido invadido e todas as imagens coletadas anteriormente tinham sumido.

Olhando para trás, a diretora acredita que seja uma benção ter que começar de novo, pois provou ser benéfico no longo prazo: “Eu me superei”, disse Zhao ao Vulture. “Achei que aquele filme fosse a minha identidade. Quando foi tirado, eu realmente me descobri porque não teria feito da maneira certa”.

Zhao analise que trilhou um caminho mais lento para o sucesso, mas que definiu quem ela é. “Nesta indústria, se você não for honesto sobre quem você é, você vai atrair pessoas com quem você não quer trabalhar de qualquer maneira”, disse ela ao The Atlantic. “Por ser autenticamente quem você é, você pode demorar um pouco para se tornar bem-sucedido, mas vai aos poucos reunindo pessoas que são sua tribo, seu tipo de gente”.

Após muitos projetos de orçamento muitos limitados, Zhao comandou “Nomadland” e depois disso foi escalada para comandar “Eternos”, a adaptação de quadrinhos de US$ 200 milhões do Universo Cinematográfico da Marvel, que está marcado para estrear em novembro deste ano nos cinemas. Além disso, ela ainda está definida para dirigir um longa de alto-orçamento de ficção científica baseado nas histórias do Drácula.

“Nomadland”, um drama de estrada escrito e dirigido por Chloé Zhao e estrelado por Frances McDormand (em seu primeiro papel desde que ganhou o Oscar por “Três Anúncios Para Um Crime”), tem sido amplamente considerado como um dos melhores filmes do último ano, conseguindo um bom desempenho na temporada de premiação, se configurando como um dos principais nomes para conseguir algumas indicações ao Oscar.

O longa é um filme devastador sobre as dificuldades de uma mulher vivendo em um sistema falido e que poderia muito bem ser o destaque do ano de 2020, um prêmio incerto para um ano como aquele. O longa é uma adaptação ficcional de um livro de não-ficção de Jessica Bruder, que usa a personagem Fern como uma lente para ver a subcultura das pessoas que passam suas vidas viajando em trailers e carros, trabalhando e sobrevivendo enquanto se movem pelos EUA. Como Fern, muitos deles estão perto da idade de aposentadoria, mas sem a opção ou inclinação para se aposentar e, em vez de lutar para sustentar o que tinham antes, reduziram suas necessidades. Eles são refugiados da última recessão, do aumento do custo para sobreviver, para se comprar a vida e, claro, de uma rede de segurança de vida desgastada – embora a diretora e roteirista Chloé Zhao tenha se recusado a reduzi-los a subprodutos do sistema capitalismo que estamos inseridos.

“O mundo está tentando nos dividir”, afirmou Zhao anteriormente ao IndieWire. “Nos últimos meses, todos nós passamos por uma versão do que Fern sentiu – esse sentimento de grande perda para uma vida que você costumava ter”, ela continuou se referindo à pandemia em curso. “É apenas esse vazio que você sente, a necessidade de voltar ao normal, que leva à aceitação e a como você pode crescer para se sentir bem com o seu lugar no mundo. É disso que muitas pessoas precisam agora”.

Por enquanto, “Nomadland” ainda não possui nenhuma data de estreia no Brasil definida, com a 20th Century Studios (da Disney) apenas alegando que o longa vai estrear “em breve” nos cinemas brasileiros; O longa já estreou nos cinemas fora do Brasil e está no Hulu, que não está disponível no Brasil.

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